terça-feira, 29 de dezembro de 2009

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Entrevista com Santanna o Cantador


Segue a entrevista feita por mim, via internet, com o cantor, de forró pé-de-serra Santanna "o cantador"... Bastante solícito, o poeta fala de suas opniões sobre a música e a cultura nordestina... mostrando que o nordeste tem poesia de qualidade e confirma o que os ouvidos mais atentos já haviam percebido ele bebe na fonte de Luiz Gonzaga, salve o rei do baião!

Fale um pouco da sua infância, e como saído de Juazeiro do Norte (CE) veio parar em Pernambuco?

SANTANNA: A minha infância foi uma infância de um menino pobre, do interior do sertão. Que esculpia no tijolo de barro carrinhos de brinquedo. Uma criança que chorava sentindo saudades do Recife – PE, sem nunca ter ido lá e sem saber nem pra que lado ficava tal cidade. Que esperava ansiosamente o carnaval para ouvir os frevos decantados pelo fantástico Claudionor Germano, nas emissoras de rádio da minha Juazeiro do Norte. Que quando ouvia Luiz Gonzaga, imaginava que a voz do meu pai, Seu Otávio, que me deixou muito pequeno quando se separou de minha mãe, Dona Zefinha, seria similar a voz do Rei. Sempre tive grandes sonhos. Sempre desconfiei que teria que dar uma contribuição para melhorar a vida das pessoas, através da minha vocação.

Por que "O cantador"?

SANTANNA: O nome Santanna me veio por inspiração. Eu precisava de um nome emblemático ligado ao Nordeste, para ser artista nordestino. Na minha família, principalmente no ramo Alencar e Sampaio houve muitas mulheres com nome Santana. Eu quis homenageá-las usando seu nome.
Cantador para diferenciar do grande guitarrista mexicano Santana (que não canta).

O que é Luiz Gonzaga pra você ?

SANTANNA: Além de tudo o que já se sabe da vida dele, foi um grande empreendedor. Transformou uma pequena festa nordestina de quatro dias na maior festa brasileira, que já chega a durar 40 dias, como por exemplo: Caruaru - PE . Do ofício por ele inventado sobrevivem hoje inúmeras famílias no Brasil e no Exterior. Ele foi verdadeiramente um gênio.

O que acha da comparação inevitável que algumas pessoas fazem da sua voz e musicalidade com a do Mestre Lula?

SANTANNA: Agradeço. É muito bom ser comparado ao que presta. Opinião não se discute.

Sua resistência, enquanto cantor e compositor, defensor do verdadeiro forró pé-de-serra, é louvável. Achas que a música - em especial o forró pé de serra- é um instrumento de conscientização e propagação da cultura popular?

SANTANNA: Não só de conscientização e propagação da cultura popular, mas, devido ao cunho poético-filosófico de suas letras também ajuda na construção da formação da personalidade das pessoas, bem como serve como um contributo indubitável a elevação da auto-estima de quem o ouve.

Quem já foi a um show seu percebe que grande parte do seu público é constituído por jovens, a que deve isso?

SANTANNA: Eu faço músicas para os jovens.

Quem são os grandes nomes do forró pé-de-serra atualmente?

SANTANNA: Há muitos nomes. Vou citar alguns para ilustrar: Dominguinhos, Flávio José, Adelmário Coelho, Petrucio Amorim, Maciel Melo, Elba Ramalho, Nádia Maia, Cristina Amaral, Irah Caldeira e outros.

Há uma renovação?

SANTANNA: Sim. Cezinha do Acordeom, Fábio Carneirinho, Território Nordestino, Fim de Feira, Trio Nós 4, Trio Juriti, Paulinho Leite e outros.

Há uma grande divergência em torno das bandas de "forró" ditas "estilizadas". Achas que este estilo tem causado alguma perda ao forró de raiz?

SANTANNA: Eu não percebo outro forró que não seja o criado por Gonzagão. Às vezes ocorre o uso indevido de um verbete para nominar uma coisa que não corresponde à verdade etimológica daquele verbete. O verbete Forró tem um significado muito nobre para estar sendo usado mundanamente. Não há perdas nem danos, pois nosso público sabe o que quer.

A visão que grande parte do Brasil tem do sertão ainda é a de um povo sofrido e de pouco estudo, ou que não tem nada a oferecer em termos de cultura... O que achas disso e o que fazer para mudar tal pensamento?

SANTANNA: Quando a mídia sudestina mostra o Sertão para o país inteiro ver foca apenas a pobreza do lugar. É a famosa opinião publicada. O sudeste e as outras regiões também têm pobreza, mas são mostradas com menos intensidade. Dessa maneira, ajuda a crescer ainda mais o preconceito em relação a nossa gente por parte dos sudestinos e sulistas. O preconceito para mim é uma das maiores doenças do ser humano.
O pensamento é uma coisa subjetiva. Não podemos desperdiçar energia para agradar a quem não nos quer amar e nem podemos controlar a mente de ninguém. Acho que o Nordeste tem que aprender a andar com as próprias pernas e deixar de viver das sobras do Brasil.

Deixe-nos alguma das suas poesias ou de outro autor que ilustrem melhor a cultura sertaneja e o povo do sertão.

SANTANNA: Eu disse:
“A imagem que divisei
Em tarde de sol bem quente
Fez meu passado surgir
De relance em minha mente,
Em sujinhos pés descalços
Que corriam alegremente
Sem sequer se importar
Com o que virá pela frente
E sem notar que o futuro
Faz-se hoje, no presente.”



O forró Pé-de-Serra, no Brasil e Nordeste, teve como principal representante Luiz Gonzaga, o Rei do Baião como era mais conhecido. Associado à música, a rica poesia de Catulo da Paixão Cearense, Patativa do Assaré, Lourival batista, Job Patriota, Zé Limeira da Paraíba e todos os contemporâneos forrozeiros que fazem a eterna cena do forró nordestino do pé-da-serra, novos compositores não se rendem a modismos e compõem o forró por pura identificação artística.
O forró é o ritmo mais escutado nas rádios do Nordeste, e há algum tempo vem conquistando a população das grandes capitais brasileiras, como é o caso de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, onde vários clubes e boites trazem como atração principal bandas de forró pé-de-serra e de forró eletrônico, descaracterizando um pouco a cultura, mas levando-a aos quatro ventos.

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